Nos últimos tempos, devido ao avance sempre crescente do coronavírus, e o aumento das notícias alarmantes que chegam desde Itália, Espanha e inclusive Estados Unidos, muitas tem sido as zonas que decidiram prevenir e terminar as atividades nas cidades e alertas a população para que estejam em suas casas e que tratem de sair na rua o menos possível.
Flávia Oliveira é uma mulher que desde 5 anos atrás exerce a profissão de acompanhante em Recife, e é uma das afetadas por tudo que está acontecendo agora. “Minha vida está pendente do contato físico” conta com muita pena a mulher recifense. Não sou uma acompanhante de luxo e não tenho grandes quantidades de dinheiro guardado. Vivo o dia a dia, apenas tenho um o dois clientes na semana e com isso é o que tenho para sobreviver e manter a minha família.
O governo olha para o outro lado e não oferece nenhuma solução
Nessa situação dramática, Flávia lamenta que nem o Governo nem o Estado de Pernambuco lhes ofereçam uma alternativa que lhe proporcione um meio de sobrevivência. “Sair para a rua é um risco, primeiro porque você pode se infectar com a doença e logo disseminá-la em outras pessoas, e depois porque, em tempos de confinamento, pessoas que ainda estão nas ruas, como eu, são insultadas além de correr o risco de ter que pagar uma multa”.
Diante da passividade do governo, que parece estar mais envolvido em outros tipos de questões, Flávia não teve escolha a não ser continuar todos os dias em buscar por antigos clientes em sua agenda. Devido à situação, Flávia está quebrando a discrição que normalmente mantém com seus clientes e todos os dias envia dezenas de mensagens para antigos clientes “você tem planos para hoje?” ele pergunta a eles. Alguns respondem de uma maneira muito mal-educada porque suas esposas podem chegar a ler a mensagem e que é para ela nunca mais voltar a escrever nada. Apesar de tudo, ela decidiu continuar fazendo isso porque é a única alternativa que encontrou para atrair novos clientes em um momento em que praticamente ninguém passa nas ruas.
Oferta para passar a quarentena com alguns dos seus clientes
Flávia denuncia que, dada a situação, alguns dos poucos clientes que continuaram a contratar seus serviços sexuais queriam aproveitar o que está acontecendo e propuseram passar semanas e até meses morando com eles (e fazendo sexo toda vez que quisessem) “por uma quantidade insignificante”, cujo valor ela não quis revelar.
“Algumas das minhas colegas aceitaram e moram hoje com alguns de seus clientes”, ela, por outro lado, não quer ir a esse extremo porque “seria um emprego mal remunerado, explorador e que tornaria uma situação que já é muito mais difícil ainda pio”.
Oliveira denuncia que nem todos podem fazer isso, e que alguns, como ela, têm filhos pequenos esperando por eles em casa, por isso devem tentar ganhar o máximo possível no menor espaço de tempo e, assim, não ficarem ausentes por tanto tempo. “Eu tenho um vizinho que é um amigo muito próximo que cuida da criança quando não estou lá, mas toda vez que o deixo encarregado de me prostituir, isso parte meu coração”.
Voltar para as casas dos pais não é uma opção
Em uma situação que muitos jovens que decidiram voltar para a casa dos pais para voltar a compartilhar os gastos e fazer a quarentena mais fácil de lidar para todos. Flávia lamenta não poder fazer a mesma coisa.
“Meus pais se enfureceram comigo quando eu entrei para o mundo da prostituição e hoje em dia já não temos nenhum contato” relata com os olhos brilhantes. “Voltar a falar com eles não é uma opção viável”.
Em casos como este podemos perceber a dramática cara de uma pandemia que destruiu famílias inteiras, acabando com milhões de trabalhos em todo o mundo e levando a situações extremas pessoas como Flávia, que hoje em dia segue tentando ganhar a vida nas zonas periféricas de Recife.